Meias Palavras.

Muitas pessoas têm dificuldade de falar o necessário e ocupam esse espaço para encher linguiça, e num embaraço da língua algo acontece: erro de comunicação, palavras mal interpretadas, gestos que deveriam significar uma coisa e acabam sendo traduzidos para outra. Nem sempre o que falamos chega ao ouvido do próximo como deveria. Estamos engasgados com palavras presas que deveriam ser ditas e escolhemos mantê-las ali, no fundo da garganta, correndo o risco de perder aqueles que amamos por medo, insegurança ou orgulho.

O problema nem sempre é o assunto ou o falar em si, mas a forma como se faz isso. Se você precisa chamar a atenção de alguém não há necessidade de escândalo. Se você precisa confessar algo a alguém, confesse logo e pronto, remédio ruim a gente bebe numa dose só. Se você precisa dizer que algo lhe incomoda, diga e livre-se do peso, não acostume com os outros lhe ferindo de graça sem resposta. Se algo está injusto, não se cale, calar muitas vezes é consentir. É um exercício difícil, confesso. Nem sempre estamos disponíveis para encarar esses desafios, mas os resultados do silêncio podem ser devastadores. Já vi amizades desfeitas, casamentos terminados, famílias separadas por falta de diálogo, por falta de alguém falar a verdade nua e crua quando necessário.

Eu costumo gostar daquele tipo de gente que não tem papas na língua. Aquela pessoa que te avisa sobre a roupa brega que você está usando, que te alerta sobre o cafajeste que você namora, que te faz ver o que você não aceita. São geralmente pessoas rotuladas como bocudas, exageradas, mas honestas. Nos sentimos mais confortáveis com as verdades debaixo do tapete, com as meias palavras e sorrisos forçados. Eu mesmo não consigo sempre dizer o que penso, o que vejo. Omissão é o caminho mais prático para os relacionamentos, mas o tempo não perdoa. Eventualmente as palavras não ditas virão á tona, quer gostemos ou não.

Por: Paulo R. Cane, colunista da Love & Pop, cronista e instrutor de Inglês.
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