Falar de Beyoncé é
meio perigoso. Ela tem milhares de fãs em todo mundo, e claro, no Brasil, um
lugar onde a fama assim como nos EUA é exessiva. Mas uma
coisa veio me chamando atenção que até então eu não percebi, desde 2014, onde muita gente
parece ter começado a questionar ou odiar Beyoncé.
Em fóruns e redes
sociais, o debate em torno de Bey acabava em dialogos fervorosos sobre seu
trabalho artístico e sua vida, puxando até mesmo para a militância.
Mas por quê?
Deboches a parte,
sabemos que uns tratam esse assunto de diva pop a sério mesmo, por mais que
hoje rejeitem isso e achem que é infantilidade. Pois bem. Fui vendo que as
pessoas começaram a despertar um ódio em Bey, o que eu mais via com frequência eram
os questionamentos sobre ela ser mesmo
uma artista? e de ela é mesmo feminista? E por que isso veio a tona agora?
Talvez essas as
pessoas nem sempre amaram a Beyonce, com exceção dos fãs. E quando eu falo “pessoas”
estou me referindo também a pessoas que trabalham na mídia. Eu percebi que
estavam mesmo querendo derrubar a mulher.
Para responder a isso
tive que ver um pouco da história dela na musica. No passado Bey saiu de uma girl band e depois seguiu
carreira solo. A sua frente estava Britney que vendia monstruosamente, depois
Xtina e depois Avril e outros ai. Beyonce foi crescendo aos poucos, e sempre
ganhando Grammys, fazendo performances cada vez mais perfeitas e cantando
divinamente. Onde estava o erro? Não havia erros. Enquanto Britney raspava o
cabelo ou Xtina flopava, Beyonce estava intacta. Porém nem tudo eram flores. Apesar
dos Grammys e das turnês, musicas em #1 nunca foi o forte dela. Por isso a
piada de que ela só “hita” com o marido, por que as musicas de maior sucesso
foram feat com ele. Vemos então uma cantora de sucesso, estabilidade e tal.
Mas também me veio
em mente questões raciais. Michael Jackson sempre foi gongado pela gravadora e
pela mídia por ser negro. Poucas pessoas conhecem sua história, ele sempre
ficava pobre por que a gravadora o roubava, mas seus fãs fiéis o reerguiam e
devolviam o trono. Quando vamos para o lado feminino, é PIOR. Afinal eles não querem
uma mulher no poder. Madonna pode ter sido, e ser, a única exclusividade e
mesmo assim ela não foi amada por todos e nem pela mídia. Tudo isso faz parte
do movimento capitalista que os cantores e nós estamos inseridos.
Isso pode justificar
por que Beyonce esteve sendo alfinetada, por que ela nunca foi de
fato, criticada até agora. Mas por um triz seu trabalho todo pode ter vindo a baixo. Ela é
perfeita em todos os sentidos, dança, canta, faz shows espetaculares. Mas só isso a mídia
odeia, por que não vemos e não temos
nada da vida pessoal de Beyonce, e ela não dá margem para isso para que não possam
destruir sua vida e nem sua carreira. Por isso falaram que ela estava chata,
que ela é chata. Talvez os americanos e pessoas do mundo achem a mesma coisa,
mas não achavam a hora para dizer isso, por que Beyonce e sua perfeição a
blindavam.
Não saber de
Beyonce e sua vida é também não saber da verdadeira
Beyonce. Ai abre uma questão delicada, sobre a sua personalidade.
Com o tempo fui
vendo que a verdadeira duvida das pessoas, era sobre a veracidade de seu
trabalho e do que ela defendia. Ela realiza trabalhos filantrópicos e não precisa
gritar por quatro cantos que é feminista. Mas mesmo assim restam lacunas vazias
a seu respeito. Com o tempo também fui me agarrando a essas questões, e Beyonce
começou a me levantar as mesmas duvidas. Fiquei indo e vindo na sua carreira e não detectei falhas. Mas a perfeição era sua falha e estava na cara.
Longe de mim dizer o que é ou não feminismo em Beyoncé, sou homem, mas
algumas amigas minhas não acham as letras de Beyonce “forte” o suficiente, e não basta apenas fazer “o que ela faz” para emponderar uma mulher. De fato, as pessoas
esquecem rápido o que um artista faz. Foi assim com Madonna, que propagou a independência
feminina, mas ai e veio Britney para remoldar
o mercado americano, fabricando adolescentes bronzeadas e sexualizadas prontas
para uso dos homens. Talvez seja isso que as pessoas questionem, até onde
Beyoncé relamente é defensora de uma ideologia.
Então, bastou uma cantora
vender seus 1989 e ai caíram em cima e compararam. Taylor está de parabéns
pela sua turnê monstruosa e pela proteção do disco que fez com a Apple – sim, ela merece, e mesmo chamando ela de
mercenária ela está certa, por que é RARO encontrar uma mulher que tome conta
dos seus negócios viu. – Mas os americanos a usaram de forma suja para atacar
Beyonce. Foi apenas um pretexto, uma saída, um alivio em dizer “finalmente uma mulher que possa dar o cheque
mate nessa chata perfeitinha da Beyonce” entendem? Isso é implícito, e não explicito.
Fica tudo nas entrelinhas, mas nós captamos a mensagem e reproduzimos isso nos fóruns
e debates entre amigos.
Porém não é apenas
esse impasse da mídia. O posicionamento de um publico contra o trabalho de um
artista deve ser levado em consideração, e não é apenas uma questão de “hatersismo”.
Com tudo que
percebi, acho que Beyonce paga esse preço por sua perfeição, por ser intacta,
ela é chata. A mídia, os tabloides e as revistas podem estar cansados de elogiar e
elogiar sempre a mesma cantora. Ela tem bons discos e boas musicas, mas
percebam que depois de longos 10 anos, Lady Gaga encerrou a década apenas com
um vídeo, com um álbum pop grammyado que colocou de ponta cabeça os produtores
musicais. Algo que Beyonce e outras não chegaram a fazer. Podemos levantar uma
pauta sobre a criatividade delas, de Bey, e por
que isso não foi feito antes por alguém tão perfeita?
Ela não é chata
para seus fãs, todo fã coloca sua diva num pedestal. Mas quem avalia o trabalho
de uma pessoa, percebe as faltas e potencias, acaba separando bem essas coisas.
É árduo aceitar isso. Beyonce vem tomando ares de uma divindade, e seus fãs se
tornam agressivos quando ela é questionada. Mas percebi mesmo umas falhas em Beyonce
que não se pode negar, como as polêmicas.
Acho quese Beyonce se
envolvesse em polemicas na musica, sua vida não ia acabar e nem sua carreira. O
marketing e os fãs estão ai pra isso. É até irônico ver como os cantores
americanos não aprenderam NADA com Michael Jackson e só se envolvem em temas polêmicos
quando os convém.
E qual a
necessidade de polemizar nas musicas? A polêmica é a irmã mais velha do pop,
sem ela não há reviravoltas de conceitos. Por isso o pop sempre foi visto torto
na musica. O que seriam dos gays se Madonna não tivesse gravado Like a Prayer,
Vogue? Não existiriam tais hinos nem uma reviravolta no mundo GLBT sobre vários
tabus destruídos. Ou até mesmo Gaga refazendo esse rebut com a igreja e a
orientação sexual. A polemica ajuda a naturalizar esses tabus.
Há gêneros musicais
polêmicos por si só, como o rap, o funk, que no passar do tempo, se calam.
Mas nenhum gênero musical é tão polemico a não ser o pop, por que ele toma
proporções enormes fora do comum. Ele vende, ele é massivo, ele soa homogêneo
para todos. O pop é o bode expiatporio para as manifestações do mundo, pois
nele estão os gays, os diferentes, os estranhos, as trans, as oprimidas e toda
a marginalidade que conhecemos bem. E essas pessoas precisam de uma VOZ. E o
que Beyonce faz de enxirida no pop se ela é da Black Music, R&B? Talvez por
que a sua gravadora sabe que ir pro pop de fato a tornaria uma cantora muito
artificial.
Então quando vejo
para o que Beyonce fez, em relação a seu trabalho, me falta sobre certos temas
que não foram abordados nesses últimos anos, como a segregação de mulheres Latinas na América, o preconceito racial com
mulheres negras, prostituição e a violência doméstica. Beyonce seria a
mulher ideal para botar a boca no mundo e fazer isso tomar proporções assustadoras.
Afinal é do caos que surgem as soluções. Por que nós devemos as polemicas as
aberturas mínimas que temos hoje. Dai, começo a questionar junto com a galera
sobre ela.
Ela tem musicas que
empoderam as mulheres, como Flawless ou
que criticam o padrão de beleza, porém, não vemos essas musicas irritar uma
cultura machista, nem causar um buzz. Apenas torna Beyonce “fodona” e nada
mais, é como se ela não pudesse ir além do palco e dos Grammys. Não estou
falando que ela é ruim, ela tem muito talento, porém a vida é uma balanca, e
falta algo nela para igualar as coisas.
Acabo concordando
sobre as pessoas que questionam sobre isso. Não é pecado questionar, nem errado,
porém isso é necessário para que ocorram mudanças. Quem sabe o publico exige
isso dela futuramente, como exigem de Katy maturidade, e até mesmos seus fãs
saiam do Limbo.
Àcida é a coluna de opinião escrita por João Alves para a Love & Pop. Mande suas sugestões de novos assuntos para o seu Facebook. Você pode segui-lo no instagram.