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Aceito Os Meios Para Alcançar o Fim.


Se alguém me dissesse que a vida seria tão cruel ás vezes, eu teria medo de enfrentá-la. Se alguém mentisse, dizendo que a vida seria moleza, eu teria me frustrado mais tarde. Se alguém insistisse que não vale a pena tentar quando algo der errado uma vez, eu já teria desistido de muitas coisas que, de alguma forma, acabaram sendo imprescindíveis para minha existência. Se alguém tivesse tido a coragem de me contar a dura verdade sobre quem eu sou, eu não teria me esforçado tanto nessa busca por mim mesmo. A vida é uma ironia por si só. Erramos, acertamos, sofremos, sorrimos, cantamos, calamos, choramos, dançamos. É uma delícia estar exposto á tudo o que ocorre dentro e fora. Nada que aconteceu e nada do que vai acontecer é em vão. Para quem sensibiliza sua visão, sabe que em todas as fases de nossa vida, alguma lição muito importante está disponível para ser desbravada.
O que dizer da dor, da saudade, do medo, do amor não correspondido, da morte, das chateações diárias, dos inconvenientes? Eles servem para alguma coisa, mesmo causando tanto sofrimento? Eu arrisco um palpite: são os que mais servem para “alguma coisa”. Servem para nos mostrar que somos muito mais fortes do que pensamos e também para nos mostrar até que ponto nós somos limitados. Servem para trazer á tona nosso pior e nosso melhor. Revelam a face que até então estava coberta pela máscara da hipocrisia, servem para dizer “eu te avisei”, servem para nos fazer crescer.
A intenção da vida não é nos atormentar e transformar nossa existência numa espiral catastrófica. A intenção da vida é ser aproveitada ao máximo, até o último suspiro. Quando gastamos nossas energias naquilo que não serve pra nada, recebemos em troco uma resposta: o tédio, a insatisfação, o vazio. Quando nos dispomos a fazer tudo valer a pena, o resultado é outro. Nós arriscamos mais, tentamos mais, queremos mais e nossa insatisfação não é doentia, mas ambiciosa. Tenho pena de quem se contenta com pouco, com o mínimo, com o básico e fundamental. Detesto o rotineiro e pedante.
A vida não vem com manual, não tem ninguém lá no dia do nosso nascimento para explicar o passo a passo de como vai ser. Nascemos, e a festa começa. Cada um por si curtindo do seu jeito e recebendo de volta o resultado dessa farra toda. Descobrir quem realmente somos é uma boa pedida para começar uma vida interessante. Arriscando novos sabores, novos estilos musicais, novos prazeres. Deixando para trás os velhos e empoeirados hábitos, nos livrando de medos bobos e respirando um novo ar, com vontade de viver cada dia mais. Não estamos presos dentro de nós mesmos por culpa de alguém. Permitimo-nos a prisão, a falta de visão. Deixamos o rotineiro tomar conta e convidamos para dentro de casa quem não deveria nem estar perto. A nossa vida é um reflexo do que somos pro dentro, no nosso mais profundo “eu”. Aquilo que sentimos é capaz de motivar atitudes. Nossas atitudes tornam-se hábitos, e assim o ciclo vital é formado, refletindo o que somos e o que queremos ser.
Toda mudança verdadeira começa por dentro. Aos poucos e de leve. Não acredito em quem muda da água para o vinho. Acredito em quem quer mudar honestamente. Eu creio que enquanto estivermos respirando, nunca é tarde para ser o que queremos. Nem tudo serão flores, mas aceitar os meios é a melhor maneira de alcançar o fim.

Por: Paulo R. Cane, colunista da Love & Pop, cronista e instrutor de Inglês.
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